Histórico da Catedral
Histórico da Sede da Diocese – Catedral do Divino Espírito Santo de Cruz Alta (1949)
Em 1949 o município de Cruz Alta estava expandindo-se demográfica e economicamente de modo espantoso. A população da área rural e urbana contabilizava 69.260 habitantes, segundo Eurides de Castro, no anuário de 1949; ou seja, 5.645 moradores a mais do que a cidade possui atualmente. Consequentemente, a antiga igreja não conseguia comportar um público cada vez mais volumoso. Há muito se discutia a reforma onerosa para reconstruir a torre esquerda da antiga igreja e, por fim, chegara-se a conclusão de que seria mais vantajoso construir um templo novo e maior.
Da antiga igreja acabaria restando poucos vestígios. O mais visível é o círculo com a representação esculpida de uma pomba branca, representando o padroeiro “Divino Espírito Santo”, que foi mantido acima da porta principal. Além disso, restara o belo altar mor no estilo barroco e alguns utensílios como a Pia Batismal e o ostensório missioneiro.
A Pomba branca representando o Divino Espírito Santo foi mantida.
A construção da nova igreja tivera início em 17 de julho de 1944 e teve o padre Alfredo Pozzer como o responsável por dar início ao movimento. É sabido que, embora tenhamos o ano de 1949 como o inaugural, o templo ainda não estava completo. Ainda faltava erguer a torre, comprar os sinos, rebocar e pintar toda a fachada.
Na abertura do livro tombo de 1949 comenta-se a movimentação das obras da nova matriz: “Nada mais natural em casos destes de que haverá muitas coisas incompletas e dependentes de soluções, às vezes demoradas e preocupantes”.
As festas jubilares de 1949 e as tarefas de fim de ano também atenuaram o atraso. As obras da nova matriz já se arrastavam por cinco anos e vinham sendo gerenciadas paralelamente com a administração de toda a Paróquia e a comunidade. Comenta-se também das críticas e reprovações do povo em relação aos atrasos na construção, mas confortara-se a comissão ao entregar uma igreja matriz vastíssima e revestida interna e externamente, munida de microfones e auto-falantes que custaram mais de vinte mil cruzeiros, em perfeito funcionamento; e com uma capacidade de comportar mais de duas mil e quinhentas pessoas.
Foram gastos na construção do templo, no período de 1944 até 20 de fevereiro de 1949, UM MILHÃO E SEISCENTOS CRUZEIROS, dos quais 146 mil constituiu um empréstimo devedor a juros módicos de 6% a 5%, autorizado pela Autoridade Diocesana. Ficara concluída uma grande quantidade de material (Mosaicos) para o ladrilhamento interno, que já estava pago.
Comentava-se, à época, que a Igreja Matriz do Divino Espírito Santo era um empreendimento muito arrojado, corajoso e de relevante vulto, dada as proporções do edifício. No entanto, seu projeto colossal causou discórdias entre a população e a Paróquia.
Em um artigo do Anuário de Cruz Alta de 1949, página 42, é mencionado que Cruz Alta, em breve, contaria com uma das maiores igrejas do Estado, que já estava quase concluída. Em ata de 1949 do livro tombo da Paróquia, a comissão se despede de seu mandato agradecendo a cooperação tão interessada da comunidade na construção da igreja matriz, que muitas vezes ouviram que seria um empreendimento impossível para o povo de Cruz Alta:
“Ela aí está para atestar aos pósteros quanto pode uma vontade fixa aliada ao desejo ardente de …. (ilegível). Foi isto que o bom povo e, em nada rico, de Cruz Alta fez, atendera aos apelos dum vigário ‘acolonado’, ‘sem cultura’, ‘impolido’ na boca de uns poucos ‘inteligentes e cultos’ que nada fizeram e nada deixaram para atestar sua inteligente cultura”.
O padre Alfredo Pozzer foi transferido para outro campo de apostolado antes que pudesse ver terminada a construção da igreja pela qual tanto trabalhou. No dia 20 de janeiro de 1949 tomou posse na freguesia do Divino Espírito Santo da Cruz Alta o Pe. Ângelo Bisognin, ficando responsável por dar seguimento ao projeto.
Em 1º de janeiro de 1950 o Padre Ângelo iniciou uma campanha para a compra de sinos brancos. Por sorte ou Providência Divina, na Novena do Divino Espírito Santo daquele mesmo ano foi arrecadado CR$ 80.109,00, um valor exorbitante e inédito na Paróquia. Com esse montante foi levantada a torre e rebocada a fachada da igreja matriz. Pouco antes disso, o Padre Bisognin já havia mandado instalar vinte vitrais, todos doados por pessoas benfeitoras, cujos nomes estão inseridos nos mesmos.
Em 17 de junho de 1951 foi realizada a benção inaugural dos novos sinos. Foram adquiridos três sinos brancos da firma Irmãos Bellini de Garibaldi custando CR$ 86.455,00. Na ocasião, foram bentos solenemente com os respectivos padrinhos. Comentou o padre Bisognin em ata registrada no livro tombo:
“Fizemos a campanha do quilo de sino. Esta vai lenta, mas firme. Entra aos poucos. A dívida pesa sobre os ombros”.
Foram ainda investidos no ano de 1951 a importância de CR$ 315.529,00 com a construção e manutenção da igreja da matriz.
Em fevereiro do ano seguinte assume o Pe. Ângelo Sebastião Lovato, que não realizou construção ou reformas na igreja durante sua breve estadia na paróquia. Compreensível, pois, que deveriam estar destinando forças e recursos para a construção do Monumento de Nossa Senhora de Fátima, inaugurado em 12 de outubro de 1952. Foi calculado em torno de 40 mil o número dos presentes. Até então, a paróquia de Cruz Alta nunca havia visto festa tamanha.
Em 1954 assume o Padre Jorge Zanchi, que também não deixou registrado nenhuma construção ou reforma na igreja matriz. Apenas instalou um moderno conjunto de auto-falantes a fim de resolver um antigo problema de acústica. A solução mostrou-se paliativa. O problema de acústica foi revisto em 1968, com o contrato de uma firma especializada, ao custo de CR$ 6.000,00.
Em 1958 reassumiu o Padre Ângelo Bisognin, seguido do padre Belino Costa Beber em 1962, e aqui temos um breve registro que, possivelmente, indique que a igreja matriz já estava, de fato, arrematada:
“Em 1964 o padre Belino Costa Beber deu início a nova pintura da Igreja da Matriz. O pintor Ângelo Lazarini começou o trabalho em fins de janeiro de 1964 e interrompeu em fins de outubro, ao morrer com um colapso cardíaco. Um novo pintor concluiu nos primeiros meses de 1965”.
O curioso é que, em 1967, o padre sucessor José Giuliani menciona o estado precário de conservação da igreja. Um indicador de que, desde o início, a construção vinha sofrendo com problemas de infiltração. Para tanto, foi feito um contrato de mão de obra com a firma Kraidi de Ijuí para a pintura externa. “A igreja ficou renovada num azul cinza de bela aparência”, comentou o padre na ata, ressaltando que o custo da tinta e da mão de obra totalizou CR$ 4.500,00. Ademais, foi também remodelada a calçada entre a igreja e o salão paroquial e completada a pintura interna do templo.
Desde então só se teve registrado informações como estas, de aquisições, pinturas, reparos gerais, uma reforma no telhado, troca da porta principal e pequenas melhorias como instalação de luzes e compra de aparelhos. Nenhum registro concreto que pudesse nos dar a convicção para precisar a data de conclusão da Igreja da Matriz. Exceto, talvez, se considerarmos oficialmente um registro do ano de 1970, quando Dom Antônio do Carmo, Bispo Auxiliar de Santa Maria, visitou a Igreja da Matriz, achando-a um templo moderno e finalizado, afirmando: “A Catedral da futura Diocese está feita!”. Pois o assunto da criação da Diocese de Cruz Alta já começava a ser discutido nas reuniões do Clero.
Com efeito, a Diocese foi criada pela Bula Papal “CUM CHRISTUS” em 27 de maio de 1971 e instalada em 28 de janeiro de 1973. Portanto, o ano de 1973 começou com grandes perspectivas com a ordenação e posse do Bispo de Cruz Alta Dom Ney Paulo Moretto, no dia 28 de janeiro. A cidade de Cruz Alta se tornara a sede da Diocese e a Matriz do Divino passou a ser a Catedral Diocesana.
Por fim, uma nova pintura foi realizada em 1981 e uma considerável reforma foi feita no início da década de 90.
Em 2002, segundo matéria do Jornal Diário Serrano de 25 de agosto de 2005, a Catedral passava por um processo de restauração em toda sua estrutura física. O padre responsável, Valmor Steurer, explicou que o processo de reestruturação da Catedral estava ocorrendo desde o temporal que varreu a cidade em 2002, que acabou destruindo o teto e o forro do prédio, de modo que ficou impossível realizar qualquer tipo de celebração no local. “Tivemos que começar a reconstrução imediatamente e quando notamos era necessário, além do telhado e do forro, reconstruir também o piso, a rede elétrica, os vidros, o som, luminárias e outras exigências de segurança como extintores de incêndio e alarmes de incêndio”.
Com os trabalhos de restauração, foram aparecendo outros problemas na parte externa do prédio. Foram restaurados também os bancos internos da igreja, dando beleza e conforto para os fiéis, que há muito tempo já estavam reclamando da falta de conforto e feita a pintura externa. Para a pintura, foram usadas cores mais leves e alegres com tons que destacarão os detalhes como pêssego, flamingo (um tom de vermelho) e a terceira cor poderá ser mais escura. “As cores antes eram muito pesadas e não expressavam um ambiente leve. Por elas terem vida e mexerem com nossos sentimentos, devemos usar cores mais leves que nos trazem conforto, harmonia e aumentam nossa autoestima”.
Foram gastos cerca de 70 mil reais com a reconstrução da parte interna como a iluminação que dobrou. Conforme o Padre Valmor, as verbas foram arrecadadas em festas e doações dos fiéis, e mais de 30 mil reais foram utilizados para a pintura e remodelação dos bancos. “
Entretanto, por certo, a reforma mais digna de nota deu-se recentemente, com o processo de revitalização interna e externa da Catedral. O projeto foi elaborado pelo arquiteto e artista sacro Cristtiano Fabris, e a execução da obra ficou a cargo da empresa Zanon Construções, de Guaporé-RS.
A Catedral estava mais uma vez deteriorada. Havia problemas de infiltração, esfarelamento das paredes e muitas goteiras. A decisão tomada em 16 de fevereiro de 2018, autorizada pelo Bispo Diocesano Adelar Baruffi, sob a coordenação do Padre Márcio Laufer, e os demais integrantes da Comissão, visava arrecadar algo em torno de três milhões de reais através de uma campanha. Todos os recursos para a obra vieram das doações dos fiéis e empresas, através de boletos de pagamentos mensais, doações espontâneas e arrecadações em eventos.
A revitalização interna foi drástica. O templo foi praticamente refeito, do teto, ao reboco e o piso. Iluminação, sistema de som, piso de granito, pintura, cripta para sepultamento dos bispos, um grande vitral no forro sobre o altar e a restauração de todos os vitrais e pintura das imagens sacras nas paredes, num total de R$ 2.313.000,00.
No dia 13 de dezembro de 2020 a Catedral foi reinaugurada em celebração presidida por Dom Adelar Baruffi. No entanto, em função da pandemia, teve a participação restrita para apenas 150 pessoas.
. A revitalização externa, orçada em R$ 800.000,00, teve início em 28 de setembro e ainda segue em andamento. Foi removido o reboco devido a infiltração de água e será feita nova pintura. Pedras basálticas serão colocadas na calçada e na extensão entre o salão e a igreja, incluindo três salas de catequese com o piso remodelado.
A revitalização ainda não está completa. A campanha colaborativa em prol da revitalização seguirá até novembro deste ano de 2021, posto que a obra está sendo paga de forma parcelada até novembro de 2021, com um valor mensal de R$ 47.000,00.
Fontes:
Livro Tombo da Paróquia do Divino Espírito Santo, 1930 a 1977
ALBERTONI, Claudino Antonio. A Diocese de Cruz Alta em fatos. Espumoso:
Gráfica Líder. 2005.
CASTRO JR, Eurides de. Anuário de Cruz Alta Em Comemoração ao 128º
Aniversário de Fundação da Cidade. 1949.
CAVALARI, Rossano Viero. A Gênese da Cruz Alta. Cruz Alta: Unicruz. 2004.
ROCHA, Prudêncio. A História de Cruz Alta. Cruz Alta: Tipografia A Liderança, 1964.
ROSA, Isaltina Vidal do Pilar. CRUZ ALTA: História que fazem a história da cidade
do Divino Espírito Santo da Cruz Alta. Rio de Janeiro: Tipo Editor, 1981.
SCHETTERT, Ivan Soares. Cruz Alta em Poemas. Como surgiu e evoluiu. Porto
Alegre: Editora Pallotti, 1993.
Jornal Diário Serrano, 25 de agosto de 2005