Com os olhos fitos no Senhor
Que é, pois, a oração senão estar na presença do Senhor? A oração é o mistério em que o Deus, Uno e Trino, Criador do céu e da terra, fim último de toda existência, se faz presente na vida de seus pequenos e humildes servos, se faz nosso amigo. A oração é o momento do amor recíproco, onde me dou conta e tomo consciência do amor de Deus e assim, o amo, afinal “Ele nos amou por primeiro” (1 João 4, 19). Assim como qualquer outro vínculo, a união com Deus só pode existir a partir do encontro, encontro este entre a criatura e o Senhor.
Diz Santo Afonso Maria de Ligório: “Que amizade poderá haver, senão aquela em que dois amigos regozijam mutuamente na presença um do outro?”. Ora, é por isso ele também diz “quem reza se salva e quem não reza não se salva”, afinal, querendo Deus se fazer presente em nossa vida e conosco estabelecer um vínculo de amizade, ao não rezarmos não nos tornamos seus amigos. Quem não reza não é amigo de Deus, nem o conhece e nem o ama, simples assim. O amor a Deus só é desenvolvido na presença d’Ele, na oração.
Cabe a nós, portanto, oferecermos o dízimo de nosso tempo ao Senhor, um tempo em que estamos a sós com Ele, onde do fundo do nosso coração oferecemos a Ele nossas preocupações, pedimos perdão por nossos pecados, agradecemos pelas graças que recebemos, reclamamos dos momentos difíceis, ofertamos nossos avanços espirituais, pedimos por aqueles que necessitam, solicitamos sua ajuda nas dificuldades, enfim, numa profunda relação de amizade, apresentamos ao Senhor a nossa vida como um todo.
É claro que o amigo que está diante de nós na oração não é um amigo qualquer, a Ele toda reverência é necessária, afinal, é nosso Deus, por essa razão os tratados sobre oração recomendam estarmos conscientes de duas coisas logo no início da oração: quem é Aquele que está diante de nós (Deus, que é infinita bondade, sentido de tudo, Aquele que tudo pode, Aquele que derramou seu sangue na Cruz); quem é este que está rezando (eu, criatura, grão de areia, pecador, pequeno, não merecedor do amor Divino). Os ‘pensamentos intrusos’, frutos da imaginação, podem ser também ofertados a Deus na oração, assim deixam de atrapalhar a oração e passam a incorporá-la.
Afirma o poeta Luís de Camões: “Transforma-se o amador na coisa amada”. Se de fato assim é, por amarmos a Deus, nos tornamos como que ‘divinos’. “Onde está o teu tesouro aí também está o teu coração” (Mateus 6, 21) diz as escrituras, se temos Deus como nosso tesouro, com Ele está nosso coração. Nós nos tornamos mais semelhantes a Ele na medida em que o amamos. Para Ele fomos feitos, para Ele somente. Tudo mais adquire sentido n’Ele. “Fizeste-nos para Ti e inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em Ti” (Santo Agostinho), afinal, nos diz o Senhor: Meu amado é para mim e eu para ele (Cântico dos cânticos 2, 16). Somos os amados de Deus e é na oração que este amor divino nos toca ao mesmo tempo que o nosso amor n’Ele toca.
Vitor Kirchner Fiorin
Seminarista
1º Ano de Teologia