Falando em vocação
A palavra vocação vem do termo latim vocare, que significa convocar, chamar, escolher. Vocação é, portanto, um chamado de Deus a uma determinada pessoa. Esse chamado é individual, possui características únicas para cada um. São infinitos os caminhos para os quais Deus convoca a cada um. Logo, são diferentes tipos de vocação. Ou seja, diversas possibilidades que, acima de tudo, nos permitam evoluir e dar continuidade às obras de Deus.
Esse chamado não acontece de maneira isolada, mas dentro de um processo de desenvolvimento. E nessa jornada, as atitudes do dia a dia são fundamentais. Quando começamos a olhar o mundo de outra forma, buscando sempre a evolução e o desenvolvimento da espiritualidade, naturalmente o processo de descoberta de vocação acontece.
A vocação é para todos. Todos somos chamados a percorrer um caminho. Além de fortalecer a espiritualidade, conhecer os tipos de vocação e refletir sobre o futuro da sua jornada é fundamental para o amadurecimento desse processo. Basicamente, as vocações religiosas podem ser divididas em três grupos:
Vocação matrimonial ou Laical: Para esse grupo, diversos propósitos de vida podem ser encontrados, através do ministério familiar ou ações missionárias;
Vocação sacerdotal: religiosos chamados a anunciar o evangelho e guiar a comunidade rumo ao caminho de Deus. Aqui estão os diáconos, presbíteros e bispos;
Vocação religiosa: pessoas que se consagram a Deus por meio dos votos religiosos de pobreza, obediência e castidade e, geralmente, seguem e servem a Cristo por meio de uma Congregação Religiosa.
Na Diocese de Cruz Alta temos muitas possibilidades que auxiliam no discernimento vocacional, bem como na caminhada de cada um, como, por exemplo: o Serviço de Animação Vocacional – SAV, as Escolas Vocacionais Paroquiais – EVPs, os diversos movimentos, serviços e pastorais que desenvolvem trabalhos por toda a Diocese. Além, claro, de muitos testemunhos de vida. Vamos conferir alguns deles:
VOCAÇÃO COMO REALIZAÇÃO DO PROJETO ETERNO DE DEUS: relato de minha experiência vocacional
No livro dos Provérbios está escrito: “O coração humano projeta o caminho, mas é o Senhor quem dirige os passos” (Pr 16,9). Pensando na minha vocação, acredito que Deus foi me encaminhando, não conforme os projetos ‘do meu coração’, mas ‘do Coração Dele’, porque Deus sempre soube o que era melhor para mim e tenho certeza que sabe o que é melhor para cada um de nós. Confiando Nele, sei que Ele sempre soube quais eram as escolhas que me fariam verdadeiramente feliz e as escolhas quais eram simples engano do meu coração para fugir dos projetos divinos.
Começo o meu testemunho vocacional dizendo que nem sempre eu tive consciência do meu desejo de ser padre. Quando criança, eu pensava em ser caminhoneiro. Eu imaginava que era uma profissão cheia de emoções e aventuras, pois se tem a possibilidade de conhecer muitas cidades, pessoas, lugares… Depois, quando fui crescendo, comecei a gostar de desenhar. Então, pensei em trabalhar com algo que utilizasse o desenho. Com o tempo, fui me dando conta que não desenhava tão bem quanto imaginava e que, por isso, devia ser realista com meus propósitos, ou seja, que estes deveriam estar ao alcance das minhas qualidades e aptidões. Na adolescência, comecei a gostar de ler. O gosto pela leitura foi aumentando até chegar na fase mais engajada na literatura onde somava mais de 100 livros que eu lia por ano. Nesta época, pensei em trabalhar em algo que envolvesse a leitura e a escrita. Então, me surgiu o desejo de ser professor de português ou literatura ou, talvez, um jornalista. No ano que eu estava no ensino médio, ao mesmo tempo, eu fazia um curso técnico em mecânica industrial. Contudo, ainda não sabia o que eu verdadeiramente queria da minha vida.
Recordando os acontecimentos, acredito que um fato que mudou a minha vida foi a experiência no grupo de jovens. Eu era muito tímido, mas no grupo de jovens comecei a desenvolver a capacidade de me relacionar com as pessoas, de argumentar; também comecei a crescer na fé e me envolver mais na comunidade, ajudando na liturgia, na catequise, nas atividades da comunidade… Esta atividade na comunidade fez com que eu participasse da coordenação paroquial de jovens e, depois, integrar a coordenação diocesana da Pastoral da Juventude.
No ano 2004 eu prestei o serviço militar, no 27º GAC, em Ijuí. Nos primeiros dias do ‘quartel’, todos nós ganhamos uma Bíblia. Não sei explicar porque mas decidi começar a ler todas as cartas de São Paulo. Depois, passei a ler os evangelhos. Quando me dei conta, já tinha lido todo o Novo Testamento. Este ano de experiência no exército foi também um tempo de pensar e descobrir o que verdadeiramente eu queria da minha vida. Então, me propus a fazer meu projeto de vida. Rezando e refletindo, fiz as pergunta que eram necessárias naquele momento: ‘Qual é o sentido da minha vida? Por que estou neste mundo? O que Deus quer de mim? O que vou deixar para este mundo quando eu não estiver mais aqui?’. Foi a partir destas perguntas que comecei a ficar atento aos sinais de Deus na minha vida e percebi que a minha maior alegria era a comunidade, o grupo de jovens, a evangelização, o estudo da Bíblia. Refletindo sobre a vida de Jesus, entendi que a missão de cada um, neste mundo, é dar a vida pelos irmãos, por uma causa nobre que é o Reino de Deus, porque Cristo deu a vida por cada um de nós e nos ensina a fazer da nossa vida doação e serviço, por amor. Foi então que, em 2005, senti que era a hora de eu optar por uma entrega total a Deus, servindo a Ele e aos irmãos como um padre. Neste ano ingressei no seminário da Diocese de Cruz Alta.
Finalizo este relato da minha experiência concluindo que nem sempre nós sabemos o que queremos, mas é Deus, pelo sinais em nossa vida, por pessoas que encontramos, por sentimentos que experienciamos em nosso coração, nos indicam o caminho da vontade de Deus para nossa vida, este caminho que estávamos procurando mas que não se fazia claro e que apontava para outros lugares e não para aquele que era o plano de Deus para nós. Nele podemos confiar, pois Ele conhece nosso coração, sabe o que é melhor para nós, afinal, foi Ele que nos trouxe a esse mundo para realizar uma missão que nenhuma outra pessoa pode fazer em nosso lugar.
N o dia em que encontramos com Aquele que nos buscava desde sempre; quando aceitamos a Sua proposta, deixando de pensar na lógica ‘o que eu quero?’ mas ‘o que Deus quer de mim?’, podemos, como Santo Agostinho, rezar: “Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu te amei! Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado de fora! Eu, disforme, lançava-me sobre as belas formas das tuas criaturas. Estavas comigo, mas eu não estava contigo. Retinham-me longe de ti as tuas criaturas, que não existiriam se em ti não existissem. Tu me chamaste, e teu grito rompeu a minha surdez. Fulguraste e brilhaste e tua luz afugentou a minha cegueira. Espargiste tua fragrância e, respirando-a, suspirei por ti. Tu me tocaste, e agora estou ardendo no desejo de tua paz…”
Qual é o meu lugar no mundo?
“A vocação nasce, graças à arte do Escultor divino que, com as suas «mãos», nos faz sair de nós mesmos, para que se delineie em nós a obra-prima que somos chamados a ser.” (Papa Francisco, 59º Dia Mundial de oração pelas vocações)
Conforme a definição da Wikipédia a palavra VOCAÇÃO, é um termo derivado do verbo no latim “vocare” que significa “chamar”. Se alguém chama é porque existe alguém que responde a esse chamado, nessa dinâmica de chamados, convites, respostas é o que chamamos de despertar para a vocação.
A Igreja Católica, especialmente no Brasil, há 39 anos, dedica o mês de Agosto, como o mês de rezar pelas vocações específicas, dedicando cada domingo a oração por uma delas: Vocação Sacerdotal, Vocação Familiar, Vocação à Vida Consagrada, Vocações Leigas, respectivamente.
O Papa Francisco, no domingo do Bom Pastor, pública anualmente uma carta convocando os cristãos católicos a rezarem pelas vocações, neste ano, conforme a publicação datada no dia 08/05, com o tema: Chamados para construir a família humana.
Nesta dinâmica de encontros, olhares, perguntas e respostas, dá-se o encontro pessoal da criatura humana com o seu criador, do “Escultor divino”, que ao criar sua obra (criatura humana) já tem pensando para ela o seu destino, e revela no decorrer da vida a razão de existir para cada pessoa, ou seja, de ser feliz e fazer do mundo uma grande família, onde todos tenham direito à vida digna e plena.
O Sonho de Deus para a humanidade é justamente o caminho da felicidade, da vida plena, saudável e como mediação da construção da família humana, a pessoa é convidada a escolher uma vocação específica, podendo optar pela formação de uma família ou vivendo solteira, enquanto leiga, ou seguindo ao Ministério Ordenado como diácono, padre e bispo ou servindo a Deus através da Vida Religiosa Consagrada, como irmão ou irmã (freis ou freiras).
A descoberta da minha vocação surgiu enquanto eu ainda era uma criança, na cidade de Tenente Portela, na região noroeste do RS. Sou a segunda filha do casal Neli Zaffari e Artur do Rosário. Lembro que desde muito cedo algumas questões me tiravam o sono, tentando descobrir: qual era o meu lugar no mundo? qual era a razão de minha existência? para quê Deus me criou?
Enquanto meus pais iam para o trabalho eu e meu irmão ficávamos com minha avó, dona Zenaide. Ela era muito ligada a vida de comunidade, participava da equipe de liturgia, era coordenadora do Apostolado da Oração e todas as quintas-feiras rezava o terço na gruta de Nossa Senhora Aparecida que ficava no quintal da Igreja na minha cidade.
Minha avó me levava junto em todos os encontros, orações e missas, lembro que dormia nos bancos da Igreja.
Certa vez, ela levou uma revista para que pudesse ficar quieta enquanto ela fazia as suas orações e em uma dessas revistas encontrei a imagem de uma freira de hábito branco, cuidando de uma criança africana. Aquela imagem foi tão marcante pra mim que até hoje lembro de detalhes. Senti um impacto muito grande.
Não sabia o que era, mas disse pra minha avó que queria ser assim. Ela não deu muita importância, no momento, mas até hoje essa imagem me acompanha. Costumo dizer que foi o toque de Deus na minha vida, que utilizou de uma imagem para despertar minha atenção e ao longo da vida, aquela inquietação de buscar respostas para minhas dúvidas, foi através da Vida Religiosa que encontrei.
Durante todo o tempo de formação, a convivência com as irmãs de minha comunidade, seguindo um carisma, no meu caso, sendo Filha do Sagrado Coração de Jesus (FSCJ), dedicando-me ao cuidado e a formação das juventudes, cada vez mais sinto que estou no lugar certo. Esse ano completei 15 anos de Vida Religiosa, 15 anos que se passaram como um vento, mas que a cada ano sinto que fiz a melhor escolha para a minha vida.
Com certeza Deus nos chama para diferentes serviços e nos cabe pessoalmente a ouvir o seu convite e responder se vamos ou não seguir a sua voz. Sinceramente não há um dia que me arrependi de ter dito meu SIM ao chamado vocacional de Deus para minha vida, como Religiosa, apesar de reconhecer a beleza e o valor das outras vocações. Deus nos quer felizes. Que tenhamos coragem de responder positivamente ao seu chamado.