A Palavra, primeiro pilar da casa
Nossa 45ª Assembleia da Ação Evangelizadora de nossa Diocese, realizada nos dias 12 e 13 de novembro passado, acolheu as orientações fundamentais advindas das paróquias da Diocese e das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2019-2023). A imagem bíblica, o símbolo inspirador de toda ação pastoral da Igreja é a casa com seus quatro pilares. Esta imagem bíblica recorda a ação de acolher e enviar. É um lar, onde a dimensão humana precede a cristã, pela simplicidade das relações.
O primeiro e mais importante pilar, diante da constatação de uma crise de fé presente em muitos de nossos batizados, que não conhecem e não aprofundam a vivência cristã como discípulos de Jesus Cristo, é a Palavra. Todo cristão deve aproximar-se da Palavra como um filho que escuta o Pai. Ela não é como as outras palavras. Esta precisa ser acolhida e interiorizada. Ela é fundamental para orientar o caminho, o sentido de viver. No itinerário da Iniciação à Vida Cristã, há um momento de entrega solene da Palavra, no início das etapas, pois ela é a alma de toda evangelização, em toda vida e em todas as circunstâncias. “O importante é o encontro com a Palavra que muda a vida e dá sentido ao ser e agir de quem é cristão, corrigindo posturas e aderindo ao modo de ser, de pensar e de agir de Jesus Cristo. O Evangelho passa a ser o critério decisivo para o discernimento em vista da vivência cristã” (CNBB, DGAE, n. 92).
Os evangelhos nos apresentam a identidade da Igreja: anunciar o evangelho. Esta é sua missão fundamental, primordial e permanente. “Vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que ordenei a vocês” (Mt 28,19-20). A tarefa dos apóstolos é “fazer discípulos”, que nascem do anúncio do evangelho: “pois é pela palavra da salvação que no coração dos infiéis se desperta, e, no coração dos fiéis, se alimenta a fé” (PO 4). O anúncio da Palavra, que consegue não somente apresentar intelectualmente, mas de maneira vivencial, sobretudo através da Leitura Orante, possibilita que cada batizado acolha e alimente sua fé. É Deus mesmo quem toma a iniciativa de vir a nós e revela seu amor salvador. A resposta humana é sempre uma acolhida que provoca conversão permanente, para um progressivo configurar-se a Cristo, tornando-se discípulo missionário. Lugar especial toma o “anúncio fundamental”, que Francisco nos recordou em sua Exortação Apostólica Christus Vivit: Deus te ama; Ele morreu por ti; Ele está vivo e te quer vivo; o Espírito Santo dá a vida.
Como Paulo, a Igreja renova seu compromisso do anúncio da Palavra que possibilita que todos possam acolher o evangelho pessoalmente e constituir comunidades. Paulo sente-se “escolhido para anunciar o Evangelho de Deus” (Rm 1,1). Trata-se do evangelho que ele aceitou, e do qual também sentiu-se responsável: “servo de Cristo” (Rm 1,1). “A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo” (Ef 3,8). A Igreja não anuncia a si mesma, mas a Cristo, o evangelho vivo do Pai para toda a humanidade.
Em nossas comunidades vamos intensificar a Animação Bíblica da Vida e da Pastoral, com a Leitura Orante, em grupos de reflexão. Sem este pressuposto fundamental, será mais difícil haver batizados evangelizadores em todos os ambientes eclesiais e no mundo, sendo “sal da terra” e “luz do mundo”.
Dom Adelar Baruffi
Bispo Diocesano de Cruz Alta