Diocese de Cruz Alta

Artigos, Notícias gerais › 11/05/2020

Revestir-se da armadura da fé

Artigo do Seminarista Daniel S. Chagas

Escrevo para cristãos, mas quem não o for, por ventura possa tirar proveito, pois de fé estamos todos precisados. É a crise da fé que nos assola, a razão de nossa desesperança e do esfriar do nosso amor pela vida, pois e não cremos que a vida é importante, nos descuidamos em cuidá-la. A epidemia do Corona-vírus tem de certa forma demonstrado isso; cremos e tememos perder a vida somente na ameaça da morte, mas enquanto ela não nos toca são apenas estatísticas sob as quais nos condoemos e torcemos para que fiquem distantes, demonstram-se atos genuínos de cuidado extraordinário com quem soterrado pelo quebrar econômico está novamente a margem do pão de cada dia, mas no normal do mundo, a caridade é esporádica.

O fato é: como humanidade perdemos a fé uns nos outros, divididos por ideologias, politicas, visões econômicas, preconceitos e até religiões, e é preciso ter fé para tornar possível a comunhão fraterna entre todos. Ter fé é crer também que todos são importantes, possuem uma história e uma identidade irrepetível que contribui com a beleza do mundo, quando nos dividimos, esquecemos disto. Sempre haverá uma semente de divisão, pois não somos perfeitos, há uma mancha que nos impede sermos sempre bons, mas esta mancha ganhou muito mais espaço com o que fizemos para soterrar ensinamentos como “vós sois todos irmãos, não façais aos outros o que não quereis que vos façam”, por que em não querer ser filha de Deus a humanidade decidiu que sua Palavra não é mais importante. E quem não quer ser filho, tampouco saberá ser mãe ou pai, e ai está o fracasso da humanidade em formar para a ética seus descendentes. Podem negar o poder da Palavra, mas não a vida que ela transmite.

Outro dado interessante é sobre a obediência. Autoridades sanitárias e civis tem dito para usar álcool gel, manter distanciamento ou isolamento social e sair só quando necessário e usando máscara. Ironia epocal aviltante e desafiadora que justamente quando os índices de depressão, solidão estão cada vez mais nas alturas num mundo de saúde mental cada vez mais débil que seja o acentuar das distâncias o que venha a manter a saúde do corpo. A mente que lute com o que tiver. E temos pouco. Essas medidas são necessárias e devem ser levadas a sério pelo mínimo de decência, bom-sendo e empatia, sem falar é claro em prevenção. Mas como tem maluco pra ver conspiração em tudo não é bem o que se vê; mas isso é outro assunto. Me interessa outra obediência, a que acenei lá no início…. A obediência da fé.

A Igreja por prudência também encerrou por hora suas atividades públicas, afinal, estamos todos no mesmo barco da finita vida humana, tem a Igreja se esmerado em usar de todos os meios disponíveis para estar junto de seus fiéis e pelo que vejo, não tem medido esforços e nem recursos para continuar suas obras de caridade e acentuá-las no combate ao COVID-19. Não vou listar mas o leitor pode procurar e mais ainda, contribuir, não precisa ser religioso para ajudar a Igreja com suas obras sociais… quem o é não deveria hesitar em estar lá.

Mas e a obediência a Palavra de Deus? Como anda, meu caro cristão católico ou evangélico? Se não usarmos hoje, a máscara, o álcool e a distância, a autoridade civil multa e você pode ir preso. Há mais de dois mil anos A Palavra vem dizendo o que não se deve fazer: Matar, mentir, roubar, ser egoísta, invejoso, hedonista, desprezar a família, julgar sem misericórdia, excluir as diferenças, oprimir os fracos, não cuidar dos pobres, não trair no casamento, não abortar, não cuidar da natureza, não desperdiçar alimentos, não ser violento injustamente, não contrair vícios, etc… e a humanidade continua fazendo. Afinal, Deus é amor, é camarada e é misericórdia. As autoridades civis não são, então se obedece elas por que elas tem armas e podem tirar ainda mais nossa liberdade etc… Deus não castiga; de fato, ele não castiga, só nos deixa colher os frutos da nossa liberdade mal usada, mas ai a culpa é Dele por que não evita o mal que causamos por não obedecê-Lo.

A lista de pecados/injustiças evitáveis é grande, e há quem torça o nariz e ache mero moralismo, mas viver algum destes itens, de fato faz bem? A desobediência é perversa e encantadora, mas não sobrevive diante da verdade, por isso o esforço do mundo em mascarar a verdade do que é o mal e do que é o bem. Perder este critério de bondade e maldade relativizando-o ao juízo particular ou de poucos que dominam é compactuar com a escravidão da cultura da morte.

Estamos andando nas trevas e no pecado, sem usar o “kit de proteção” da Palavra de Deus: seus mandamentos, sacramentos, e a oração, a armadura da fé deixada por Cristo e distribuída pela Igreja. O vírus invisível atual e outras infinidades de coisas nos tiram a vida se não nos protegermos é verdade, mas o pecado e a desobediência nos tiram a vida eterna. Esquecemos da eternidade; por medo, por ignorância, por falta de conhecimento, por omissão e pelo adentrar do secularismo e do materialismo, e de ideologias que deturparam o Evangelho. Nos seduzimos com o mundo do consumo e com a utopia do aqui e do agora. O vírus pode nos matar, mas uma vida sem sentido expressa no nadar no pecado em suas infinitas faces nos mata enquanto vivos e nos condena na eternidade.

O pecado não é uma ferramenta de controle social, o nome disso é rede social, economia, política etc.. O pecado é uma realidade da nossa imperfeição que pode ser corrigida pela obediência a Palavra de Deus no perseverar da caridade, espero muito que com o reabrir da Igreja o amor pelo que é sagrado retorne mais fervoroso com aqueles que retornarem.

A Igreja precisa estar cheia de católicos convertidos, ainda que sejam poucos. É triste ver que não vem de agora a preocupação maior com bens de consumo do que com bens eternos, priorizamos muitas outras palavras, e não a de Deus e esquecemos nossa casa como Igreja Doméstica.

Tenhamos a coragem de dar ao nosso pecado os nomes que eles tem, para melhor combate-los. Senão, de que vale a vida e o que construímos e acumulamos se não for para darmos frutos que permaneçam e nos levem a Deus.

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