Santa Teresa de Lisieux e o amor misericordioso
Santa Teresa do Menino Jesus viveu, na França, de 1873 a 1897, quando veio a falecer com vinte e quatro anos. Uma jovem santa! Todos os gestos e sacrifícios, do menor ao maior, oferecia a Deus na intenção da Igreja. Como criança para Deus, livre, igual a um brinquedo aos cuidados do Menino Jesus, ensinou um lindo e possível caminho de santidade: a infância espiritual. Ela é citada por Papa Francisco no Christus Vivit, como um modelo de santidade para os jovens (cf. n. 57). “O coração da Igreja está cheio também de jovens santos, que deram a sua vida por Cristo, muitos deles até ao martírio. Constituem magníficos reflexos de Cristo jovem, que resplandecem para nos estimular e tirar fora da sonolência” (CV, n. 9). O que Santa Teresa do Menino Jesus nos ensina?
Ao jovem de hoje, pretensioso diante de suas possibilidades, e, ao mesmo tempo, dilacerado pela busca do fundamento onde repousa o sentido do seu existir, Teresa ensina a pequenez e a humildade qual caminho para a plenitude humana. No encontro entre a busca humana e o advento de Deus, que em Jesus Cristo tem sede de comunicar a sua misericórdia, a vida, a exemplo de Teresa, se faz doação total, esquecimento de si, amor infinito e missão eclesial.
O amor misericordioso envolve totalmente a figura de Teresa de Lisieux e a sua espiritualidade. Ela pode ser caracterizada como a santa da misericórdia. Fiel interprete e discípula de São João da Cruz, viveu o amor como o centro de sua vida: “somente amar é o meu viver” ( Manuscrito A, 83r) , “a minha vocação é o amor” (Manuscrito B, 3v). Amar Jesus é, sem dúvida, uma máxima da espiritualidade de Teresa. E a visão que Teresa tem do amor está concentrada com força impressionante na misericórdia de Deus. É claro que Teresa definiu a sua experiência espiritual como confiança e abandono . Porém, esta confiança ilimitada que a faz doar-se totalmente tem sua origem e fonte na experiência que nutria da misericórdia de Deus.
Este amor se lhe apresenta como misericórdia da parte de Deus Pai, que a une esponsalmente ao seu Filho Jesus e mediante o Espírito Santo e a faz expandir-se na caridade. A experiência da sua fragilidade revela-lhe o Amor Trindade misericordioso que encontra nela uma resposta de abandono total. O desapego completo de si mesma é o radical comportamento que assume diante de Deus que se manifesta como misericórdia amorosa. “É próprio do amor abaixar-se” (Manuscrito A, 2v), afirma Teresa. A misericórdia é o meio com o qual Deus realiza o triunfo do amor, desejoso por sua natureza de doar-se. Daí que o conceito de “infância espiritual”, tão conhecido na espiritualidade de Teresa do Menino Jesus, é consequência da profunda experiência que a santa faz do amor misericordioso de Deus Trindade . Por isso, o tema da misericórdia de Deus, que ela exalta e não se cansa de considerá-lo divino, gratuito e infinito, repete-se quase em forma de melodia durante todos os seus escritos. Caracteriza este como o canto a Deus de infinita misericórdia, como ela mesma afirma ao iniciar seus escritos autobiográficos: “de resto, não vou fazer senão uma coisa: começar a cantar o que deverei repetir eternamente: ‘As misericórdias do Senhor!!!’” (Manuscrito A, 2r).
Num tempo em que poucos buscam e encontram a verdadeira misericórdia de Deus e a traduzem na misericórdia humana, na sua existência, a Santa afirma: “Como é misericordioso o caminho pelo qual Deus sempre me conduziu!” (Manuscrito A, 71r). A confiança na misericórdia e o abandono de si a Deus são inseparáveis. A oferta ao amor misericordioso representa o vértice na vida de Teresa, que influenciou o resto da vida da Santa, seja na sua relação pessoal com Deus, seja na sua vocação eclesial.
Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta